sexta-feira, 13 de maio de 2011

Conta teu conto …

A SACOLA


Fiquei sempre escondida, pois meu genitor estava em prisão.


Ele tinha entrado lá quando ainda era muito jovem, cheio de energia, e a única forma que tinha para preencher o tempo era me fazer. Assim eu fui surgindo, cada dia um pouco mais. Ele usou muitos retalhos, alguns deixados por outros detentos. Assim eu tinha varias cores e texturas, mais principalmente eu tinha as vivências de quem me fez; quando ele sentia opressão, meu ponto era mais apertado, quando ele foi se liberando dessa opressão meu ponto era mais folgado e leve, e eu podia respirar em fim. Cada dia, cada ano colocava um botão, um bordado, um pedaço de papelão escrito, todo era possível. Ele e eu éramos quase uma coisa só.


Quando ele cumpriu pena, saiu, e eu fui com ele. Foi a primeira vez que vi a luz do sol.


Nunca imaginei que isso ia acontecer um dia. Até esse momento eu sempre me senti querida, eu era seu objeto mais precioso, dentro daquele lugar. Mais quando ficou livre, ele começou a ter outros muitos objetos e eu, logo foi abandonada. Assim eu senti por primeira vez a solidão.


Mas minha vida continuou. Logo fui encontrada por um velho pescador e ele me usava para guardar todos os apetrechos de pesca. Em sua casa ele me pendurava no gancho da sala ao lado da lareira, um lugar bem gostoso e quentinho. Ele acostumava ao entardecer se sentar lá para contar historias a seus netinhos.


Eu, que tinha já escutado tantas historias, quando estava lá na cela aonde nasci!! As historias de vida dos condenados me preencheram tudo esse tempo, agora as historias de fadas me aconchegavam....


Ao amanhecer, João, meu novo dono me pegava e ia comigo a jogar as redes, no vasto mar sem fim. Neste momento se me permitia de novo ver a luz do sol, e eu tinha de novo, o gosto de liberdade que foi sempre meu anseio.

amparo
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